sábado, 8 de março de 2025

APOSTILA VOLUME 5 TEONTOLOGIA



 Pastor Professor : Carlos Alberto C da Silva Mestre em psicologia, Psicanalise, Bacharel em Teologia, Graduado em Filosofia, Graduado em História, Graduado em Pedagogia, Pós graduado em Docência do Ensino Superior, Pós graduado em Gestão e Administração Escolar ABD...

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ASSEMBLEIA DE DEUS 2010

 TEONTOLOGIA

Capitulo 1

I. A DOUTRINA DE DEUS

A doutrina de Deus é o ponto central de grande parte do restante dá teologia. Pode-se até considerar que o conceito de Deus adotado por uma pessoa fornece toda a estrutura dentro da qual ela constrói sua teologia e vive sua vida. A doutrina de Deus empresta uma coloração especial ao estilo de ministério e à filosofia de vida da pessoa.

Problemas ou dificuldades em dois níveis deixam evidente que existe a necessidade de uma compreensão correta de Deus. A primeira está no nível popular ou prático. No livro Seu Deus é pequeno demais, J. B. Phillips destaca alguns conceitos comuns, mas distorcidos de Deus.1 Alguns pensam que Deus é um tipo de oficial de polícia celeste à procura de oportunidades para agarrar pessoas que estejam desviadas ou cometendo erros. Uma canção country enuncia essa idéia: "Deus vai te pegar por essa; Deus vai te pegar por essa. Não adianta fugir e te esconder, porque ele sabe onde estás!" As empresas de seguros, com suas referências aos "atos de Deus”__ sempre ocorrências catastróficas__ parecem ter em mente um ser poderoso e malevolente. A ideia oposta, de que Deus é como um avô, também prevalece. Aqui, Deus é concebido como um velho cavalheiro indulgente e gentil, que nunca desejaria diminuir os prazeres da vida humana. Essas e muitas outras concepções falsas de Deus precisam ser corrigidas para que nossa vida espiritual possa ter algum significado e profundidade.

Na igreja primitiva, a doutrina da Trindade criou tensões e debates de peso.

Muitos erros têm sido cometidos na tentativa de compreender Deus, alguns dos quais opostos quanto à natureza. Um deles é a análise excessiva em que Deus é praticamente submetido à autópsia. Os atributos de Deus são destacados e classificados segundo um método parecido com o adotado em livros de anatomia.2 Também é possível fazer com que o estudo de Deus tomese uma questão excessivamente especulativa e, nesse caso, a própria conclusão especulativa, em lugar de um relacionamento mais íntimo com ele, torna-se o objetivo. Isso não deve acontecer. Antes, o estudo da natureza de Deus deve ser visto como um meio para obter uma compreensão mais adequada dele e, portanto, um relacionamento mais íntimo com ele.

A Transcendência e a Imanência de Deus

Lemos em Isaías 55:8,9 que os pensamentos e os caminhos de Deus transcendem os nossos: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos". Em Isaías 6.1-5, Deus é descrito sentado num trono, elevado e exaltado, e os serafins clamam: "Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos". Isaías está bem consciente de sua impureza e indignidade. Mesmo aqui existe um testemunho da imanência de Deus, pois os serafins cantam: "toda a terra está cheia da sua glória" (v. 3).

O significado da imanência é que Deus está presente e ativo dentro de sua criação e dentro da raça humana, mesmo naqueles membros que não crêem nele ou não lhe obedecem. Sua influência está em toda parte. Ele age nos processos naturais e por meio deles. O significado da transcendência é que Deus não é uma mera qualidade da natureza ou da humanidade; ele não é simplesmente o mais elevado dos seres humanos. Ele não é limitado à

nossa capacidade de compreendê-lo. Sua santidade e bondade vão muito além, infinitamente além das nossas, e isso também é verdade em relação a seu conhecimento e poder.

É importante manter juntas essas duas doutrinas, que poderiam ser usadas para transmitir corretamente a verdade da transcendência e imanência de Deus?

Imanência significa que Deus faz grande parte de sua obra por intermédio de meios naturais. Ele não se restringe a milagres. Ele chega a usar pessoas descrentes comuns como Ciro, a quem descreveu como seu "pastor" e "ungido" (Is 44.28; 45.1).

Imanência (caráter daquilo que tem em si próprio princípio e fim.)

A imanência divina de grau limitado ensinada nas Escrituras envolve várias implicações:

1) Deus não se limita a agir diretamente para cumprir seus objetivos. Embora seja bem óbvio que Deus está agindo quando seu povo ora e acontece uma cura milagrosa, é também ação de Deus quando, pela aplicação de conhecimentos e práticas medicinais, o médico é bemsucedido, conseguindo restaurar a saúde do paciente. A medicina faz parte da revelação geral de Deus, e o trabalho do médico é um canal de atividade divina.

2) Deus pode usar pessoas e organizações que não sejam declaradamente cristãs. Nos tempos bíblicos, Deus não se limitava a atuar por intermédio da nação da aliança, Israel, ou por intermédio da igreja. Ele chegou a usar a Assíria, uma nação pagã, a fim de punir Israel. Ele é capaz de usar organizações seculares ou nominalmente cristãs. Mesmo os não-cristãos fazem algumas coisas genuinamente boas e louváveis.

3) Devemos ter apreço por todas as coisas criadas por Deus. O mundo é de Deus, e Deus está presente e ativo no mundo. Embora o mundo tenha sido dado à humanidade para ser usado na satisfação de suas legítimas necessidades, ela não pode explorá-lo a seu bel prazer ou por cobiça. A doutrina da imanência divina tem, por conseguinte, uma aplicação ecológica. Também possui implicações no que se refere às nossas atitudes para com outras pessoas. Deus está genuinamente presente em todos (embora não no sentido especial em que habita nos cristãos). Portanto, ninguém deve ser desprezado ou tratado com desrespeito.

4) Podemos obter algum conhecimento acerca de Deus por meio de sua criação. Toda ela veio à existência por intermédio de Deus e, além disso, Deus nela habita de modo ativo. Podemos, então, detectar indícios da personalidade de Deus observando o comportamento do universo criado. Por exemplo, parece que um padrão definido de lógica se aplica à criação. Existe nela uma ordem, uma regularidade. Os que crêem que Deus é esporádico, arbitrário ou excêntrico por natureza e que seus atos são caracterizados por paradoxo e até contradição, ou não observaram direito o comportamento do mundo ou consideram que Deus não opera nele de forma alguma.

5) A imanência de Deus significa que há pontos em que o evangelho pode fazer contato com o descrente. Se Deus está de alguma forma presente e ativo em todo o mundo criado, está presente e ativo dentro de seres humanos que não lhe entregaram pessoalmente a vida. Assim, há pontos em que estarão sensíveis à verdade da mensagem do evangelho, aspectos em que já estão em contato com a obra de Deus. A evangelização tem por alvo encontrar esses pontos e dirigir a mensagem a eles.

Implicações Da Transcendência (indo além)

A doutrina da transcendência possui várias implicações :

1) Existe algo mais elevado que os seres humanos. O bem, a verdade e o valor não são determinados pelo fluxo inconstante deste mundo e pela opinião humana. Existe algo que, de cima, confere valor à humanidade.

2) Deus nunca pode ser completamente determinado pelos conceitos humanos. Isso significa que todas as nossas ideias doutrinárias, por mais que sejam úteis e corretas em sua base, não podem explicar plenamente a natureza de Deus. Ele não é limitado pela compreensão que temos dele.

3) Nossa salvação não é conquista nossa. Não somos capazes de nos elevar ao nível de, Deus, preenchendo os padrões dele para nós. Mesmo que fôssemos capazes de fazê-lo, ainda não seria conquista nossa. O próprio fato de sabermos o que ele espera de nós é um fruto de sua auto-revelação, não de descoberta nossa. Mesmo à parte do problema complementar do pecado, portanto, a comunhão com Deus é estritamente uma questão de uma dádiva sua para nós.

4) Sempre haverá uma diferença entre Deus e os seres humanos. O abismo entre nós não é apenas uma disparidade moral e espiritual que se originou com a queda. É metafísica, tendo raízes em nossa criação. Mesmo depois de redimidos e glorificados, ainda seremos criaturas humanas. Nunca nos tomaremos Deus.

5) A reverência é adequada em nosso relacionamento com Deus. Algumas adorações, salientando legitimamente a alegria e a confiança que o crente tem no relacionamento com um Pai celeste amoroso, passam desse ponto e chegam a uma familiaridade excessiva, tratando-o como igual ou, ainda pior, como um servo. Se compreendermos, no entanto, o fato da transcendência divina, isso não acontecerá. Embora a expressão de entusiasmo até, talvez, exuberante tenha seu lugar e seja necessária, ela nunca deve nos levar à perda do respeito. Nossas orações também serão caracterizadas pela reverência. Em vez de fazer exigências, oraremos como Jesus: "Não seja o que eu quero, e sim o que tu queres".

A Natureza Dos Atributos

Para compreendermos a relação entre Deus e a criação, é importante compreender sua natureza. Quando falamos dos atributos de Deus, estamos nos referindo àquelas qualidades de Deus que constituem o que ele é. São as próprias características de sua natureza. Note que não estamos aqui nos referindo aos atos que Deus realiza tais como criar, guiar e preservar, nem aos papéis correspondentes que desempenha_ Criador, Guia, Preservador. Os atributos são qualidades da Deidade inteira.

Os atributos são qualidades permanentes. Não podem ser adquiridos ou perdidos. Os atributos são inseparáveis do ser ou da essência de Deus.

Portanto, Deus é amor, santidade e poder. Essas são apenas maneiras diferentes de ver um ser único, Deus. Deus é ricamente complexo, e essas concepções são meras tentativas de captar aspectos ou facetas objetivas diferentes de seu ser.

Queremos dizer que não conhecemos suas qualidades ou sua natureza de forma completa ou exaustiva. Só conhecemos a Deus à medida que ele se revela. Embora sua auto-revelação seja, sem dúvida, coerente com toda sua natureza e também precisa, não é urna revelação completa: Além disso, não compreendemos totalmente nem conhecemos de forma abrangente o que ele nos revelou acerca de si mesmo. Assim, há, e sempre haverá um elemento de mistério em torno de Deus.

Classificações Dos Atributos

Na tentativa de compreender Deus, vários sistemas de classificação têm sido elaborados. Com algumas modificações, a classificação adotada por este estudo é a de atributos naturais e morais. Os atributos morais são os que, no contexto humano, estariam relacionados com o conceito de correção (no sentido de ser correto). Santidade, amor, misericórdia e fidelidade são exemplos. Os atributos naturais são os superlativos amorais de Deus, tais como seu conhecimento e poder. Em lugar de natural e moral, contudo, vamos falar de atributos de grandeza e atributos de bondade.

Capitulo 2

II. A GRANDEZA DE DEUS

Espiritualidade

Entre os mais básicos dos atributos de grandeza de Deus está o fato de que ele é espírito; ou seja, ele não é composto de matéria e não possui uma natureza física. Isso é afirmado com maior clareza por Jesus em João 4.24: "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade". Também está implícito em várias referências à sua invisibilidade (Jo1:18; 1Tm 1:17; 6:15,16).

Uma consequência da espiritualidade de Deus é que ele não sofre as limitações inerentes ao corpo físico. Por exemplo, ele não é limitado a um determinado ponto geográfico ou espacial. Isso está implícito na afirmação de Jesus: "a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai" (Jo 4:21). Considere também a declaração de Paulo em Atos

17:24: "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor

do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas". E mais, ele não é destrutível, ao contrário da natureza material.

Existem, é claro, numerosas passagens que dão a entender que Deus possui aspectos físicos, tais como mãos e pés. Como entender tais referências? Parece melhor compreendê-las como antropomorfismos, tentativas de expressar a verdade acerca de Deus por meio de analogias humanas. Também há casos em que Deus apareceu em forma física, especialmente no Antigo Testamento. Esses casos devem ser entendidos como teofanias ou manifestações temporárias de Deus. Parece melhor entender literalmente as afirmações claras acerca da espiritualidade e invisibilidade de Deus e interpretar os antropomorfismos e as teofanias de acordo. com elas. Aliás, Jesus mesmo indicou claramente que um espírito não possui carne nem ossos (Luc. 24:39).

Vida

Outro atributo de grandeza é o fato de Deus estar vivo. Ele é caracterizado pela vida. Isso é afirmado na Escritura de várias maneiras. É encontrado na afirmação de que ele é. Seu próprio nome "Eu Sou" (Êxo. 3:14) indica que ele é um Deus vivo. Também significa que a Escritura não discute sua existência. Ela simplesmente a afirma ou, com maior frequência, simplesmente a pressupõe. Hebreus 11:6 afirma que "é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam". Desse modo, a existência é vista como um dos aspectos mais básicos de sua natureza.

Essa característica de Deus é proeminente no contraste muitas vezes traçado entre ele e outros deuses. Ele é descrito como o Deus vivo, em contraste com objetos inanimados de metal ou pedra. Jeremias 10:10 referese a ele como o Deus verdadeiro, o Deus vivo, que controla a natureza. "Os deuses que não fizeram os céus e a terra", por ·sua vez, "desaparecerão da terra e de debaixo destes céus" (v.11). Em 1 Tessalonicenses 1:9 traça-se um contraste similar entre os ídolos que os tessalonicenses haviam deixado e "o Deus vivo e verdadeiro".

Esse Deus não apenas possui vida, mas possui um tipo de vida diferente da vida de todos os outros seres vivos. Enquanto todos os outros seres vivos têm sua vida em Deus, ele não deriva sua vida de nenhuma fonte externa. Nunca se diz que ele tenha sido trazido à vida. João 5:26 diz que ele tem a vida em si mesmo. O adjetivo eterno é com frequência aplicado a ele, dando a entender que nunca houve um tempo em que ele não existia. Além disso, lemos que "no princípio", antes que qualquer outra coisa viesse a existir, Deus já, existia (Gên. 1:1). Portanto, ele não podia ter derivado sua existência de alguma outra coisa.

E mais, a continuação da existência de Deus não depende de nada externo a ele mesmo. Todos os outros seres, enquanto estão vivos, precisam de alguma coisa: alimento, calor, proteção para manter essa vida. Com Deus, entretanto, não há indício de tal necessidade. Pelo contrário, Paulo nega que Deus precise de alguma coisa, ou seja, servido por mãos humanas (At

17.25).

Personalidade

Além de ser espiritual e vivo, Deus é pessoal. Ele é um ser individual, com autoconsciência e vontade, capaz de sentir, escolher e ter um relacionamento recíproco com outros seres pessoais e sociais.

O fato de que Deus tem personalidade é indicado de várias maneiras nas Escrituras. Uma delas é que Deus possui um nome. Ele possui um nome que atribui a si mesmo e pelo qual se revela. Nos tempos bíblicos, os nomes não eram meros rótulos para distinguir uma pessoa da outra. Em nossa sociedade impessoal, pode parecer que seja assim. Raramente escolhemse nomes em razão de seu significado; antes, os pais escolhem o nome porque gostam dele ou porque ele é popular naquele momento. O pensamento hebreu, no entanto, era bem diferente. O nome era escolhido com muito cuidado, dando-se atenção ao seu significado. Quando Moisés indagou como deveria responder quando os israelitas perguntassem o nome do Deus que lhe havia enviado, Deus se identifica como "Eu Sou" ou "Eu SEREI" (Javé, Jeová, o Senhor; Êxo. 3:14). Desse modo ele demonstra que ele não é um ser abstrato, incognoscível, ou uma força sem nome. Esse nome também não é usado apenas como uma referência a Deus ou para descrevê-lo. É usado igualmente para invocá-lo. Gênesis 4.26 indica que os humanos começaram a invocar o nome do Senhor. O Salmo 20 fala de gloriar-se no nome do Senhor (v. 7) e em clamar a ele (v. 9). O nome deve ser pronunciado e tratado com respeito, de acordo com Êxodo 20.7. O grande respeito dispensado ao nome é uma indicação da personalidade de Deus.

No primeiro quadro de seu relacionamento com elas (Gên. 3), Deus chega a Adão e a Eva e fala com eles, dando a impressão de que se tratava de uma prática costumeira. Embora essa representação de Deus seja sem dúvida antropomórfica, ensina que ele é uma pessoa que se relacionava com as pessoas como tal. Ele é descrito com todas as capacidades associadas à personalidade: ele sabe, sente, deseja, age.

Há uma série de implicações decorrentes. Porque Deus é uma pessoa, o relacionamento que temos com ele tem uma dimensão de carinho e compreensão. Deus não é uma máquina ou um computador que supre automaticamente as necessidades das pessoas. Ele é um bom Pai que conhece e ama.

Ele é um ser vivo e recíproco. Não é apenas alguém sobre quem ouvimos, mas alguém que encontramos e conhecemos.

Por conseguinte, Deus deve ser tratado como um ser, não um objeto ou força. Ele não é algo que deva ser usado ou manipulado.

Infinitude

Deus é infinito. Isso significa não apenas, que Deus é ilimitado, mas que é ilimitável. Nesse aspecto, Deus é diferente de qualquer coisa dentro de nossa experiência. Mesmo as coisas que o senso comum antes diziam serem infinitas ou ilimitadas são hoje consideradas limitadas. Em tempos antigos, a energia parecia inextinguível. Em anos recentes, tomamos consciência de que os tipos de energia com que temos mais familiaridade são bem limitadas, e estamos nos aproximando desses limites consideravelmente mais rápido que imaginávamos. A infinitude de Deus, no entanto fala de um ser sem limites.

Tempo

O fato de Deus não ser limitado pelo tempo significa que o tempo não se aplica a ele; Ele existia antes de começar o tempo. A pergunta, Qual a idade de Deus?, é simplesmente imprópria. Ele não é mais velho hoje do que um ano atrás.

Deus é aquele que sempre é. Ele foi, ele é, ele será. O Salmo 90:1,2 diz: "SENHOR, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus". Judas 25 diz: "ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos". Um pensamento semelhante é encontrado em Efésíos 3:21. O uso de expressões como "0 primeiro e o último" e "Alia e Ômega" servem para transmitir a mesma idéia (Isa. 44:6; Apo. 1:8; 21.6; 22.13).

O fato de Deus não ser limitado pelo tempo não significa que ele não tem consciência da sucessão de pontos do tempo. Ele está ciente de que os eventos ocorrem numa determinada ordem. Mesmo assim, ele tem igual consciência de todos os pontos dessa ordem, simultaneamente. Essa transcendência sobre o tempo é comparada à pessoa que se assenta numa torre para ver um desfile. Ele vê todas as partes do desfile em diferentes pontos da rota, não apenas o que está passando por ele naquele momento. Ele tem consciência do que está acontecendo em cada ponto da rota. Assim, Deus está ciente do que está acontecendo, do que aconteceu e do que irá acontecer em cada ponto do tempo. Mas num determinado ponto dentro do tempo, ele também tem consciência da distinção entre o que está ocorrendo agora, o que ocorreu e o que ocorrera.

Poder

Por fim, A infinitude de Deus também pode ser considerada em relação ao que tradicionalmente é conhecido como a onipotência de Deus. Com isso, queremos dizer que Deus é capaz de fazer todas as coisas que sejam dignas de seu poder. As Escrituras ensinam isso de várias maneiras. Existe uma indicação do poder ilimitado de Deus em um de seus nomes, 'el Shaddai. Quando Deus apareceu a Abraão para ratificar sua aliança, ele se identificou dizendo: "Eu sou o Deus Todo-poderoso" (Gên. 17:1). Também vemos a onipotência de Deus na superação de problemas aparentemente intransponíveis. A promessa em Jeremias 32:15 de que os campos seriam novamente comprados e vendidos em Judá parece inacreditável à vista da iminente queda de Jerusalém diante dos babilônios. A fé de Jeremias, no entanto, é forte: "Ah! SENHOR Deus [...] cousa alguma te é demasiadamente maravilhosa" (v. 17). E depois de falar sobre como é difícil um rico entrar no reino de Deus, Jesus responde a pergunta de seus discípulos quanto a quem, nesse caso, pode ser salvo: "Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível" (Mat.19:26).

Esse poder de Deus é manifestado de várias maneiras. Referências ao poder de Deus sobre a natureza são comuns, especialmente nos Salmos, muitas vezes acompanhadas de declarações acerca do fato de Deus ter criado todo o universo. O poder de Deus também se evidencia em seu controle sobre o curso da história. Paulo falou que Deus fixou para todos os povos

"os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação" (Atos 17:26). Talvez o mais surpreendente em muitos aspectos seja o poder de Deus na vida e na personalidade humana. A verdadeira medida do poder divino não é a capacidade que Deus tem de criar ou de levantar uma grande rocha. Em muitos aspectos, mudar a personalidade humana, levar pecadores à salvação, é muito mais difícil.

Existem, no entanto, restrições nesse caráter onipotente de Deus. Ele não pode fazer, de forma arbitrária, qualquer coisa que possamos conceber. Ele só pode fazer coisas que sejam dignos de seu poder. Assim, ele não pode ser logicamente absurdo ou contraditório. Ele não pode fazer círculos quadrados ou triângulos com quatro cantos. Ele não pode desfazer o que aconteceu no passado, embora possa apagar seus efeitos ou até a memória dele. Ele não pode agir contra a sua natureza _não pode ser cruel ou insensível. Ele não pode deixar de fazer o que prometeu. Referindo-se a uma promessa feita por Deus e confirmada por juramento, o autor de Hebreus diz: "... para que, mediante duas cousas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos forte alento..." (Heb. 6:18).

Constância

Em algumas partes das Escrituras, Deus é descrito como imutável. No Salmo 102, o salmista contrasta a natureza de Deus com os céus e a terra: "Eles perecerão, mas tu permaneces; [...] serão mudados. Tu, porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim" (v. 26,27). Deus mesmo afirma, embora seu povo tenha se afastado de seus estatutos: "eu, o SENHOR, não mudo" (MaI. 3:6). Tiago diz que em Deus "não pode haver variação ou sombra de mudança" (Tiago 1:17).

Deus não pode crescer em nada, porque já é a perfeição. Também não pode decrescer, pois caso o fizesse, deixaria de ser Deus. Também não há mudança qualitativa. A natureza de Deus não sofre modificação. Portanto, Deus não muda suas ideias, planos ou ações, pois firmam-se em sua natureza, que permanece imutável, não importa o que aconteça. Aliás, em Números 23:19, o argumento é que os atos de Deus não mudam porque ele não é humano. Além disso, as intenções de Deus, bem como seus planos, são sempre coerentes, simplesmente porque sua vontade não muda. Desse modo, Deus é sempre fiel em suas promessas, por exemplo, sua aliança com Abraão.

Que fazer, então, das passagens em que Deus parece mudar de ideia ou se arrepender do que fez? Essas passagens podem ser explicadas de algumas maneiras:

1) Algumas delas devem ser entendidas como antropomorfismos e antropopatias. São simples descrições das ações e dos sentimentos de Deus em termos humanos e do ponto de vista humano. Incluem-se aqui as representações de Deus em que ele passa por dor ou arrependimento.

2) O que parece mudança de pensamento pode na realidade ser uma nova etapa na concretização do plano de Deus. Um exemplo disso é o oferecimento da salvação aos gentios, embora fizesse parte do plano original de Deus, aquilo representou uma ruptura muito profunda com o que acontecia antes.

3) Algumas mudanças aparentes de ideia são mudanças de orientação que resultam de um relacionamento diferente com Deus. Deus não mudou quando Adão pecou, antes, a raça humana caminhou rumo a seu desfavor. Isso também acontece no sentido inverso. Tome o caso de Nínive. Deus disse: "Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida, a menos que se arrependa". Nínive se arrependeu e foi poupada. Os humanos é que mudaram não o plano de Deus.

Capitulo 3

III. A BONDADE DE DEUS

 Qualidades morais

  Se as qualidades de grandeza que forma descritas no capítulo anterior fossem os únicos atributos de Deus, ele poderia ser considerado um ser imoral ou amoral, utilizando seu poder e conhecimento de uma forma caprichosa ou até cruel. Mas estamos lidando com um Deus bom, em quem se pode confiar a quem se pode amar. Ele possui atributos de bondade assim como de grandeza. Neste capítulo, vão-se considerar suas qualidades morais, ou seja, as características de Deus como um ser moral. Para fins de estudo, pode-se classificar seus atributos morais básicos em pureza, integridade e amor.

  Pureza moral

  Por pureza moral referimo-nos à isenção absoluta de Deus em relação a tudo que seja perverso ou mau. Sua pureza moral inclui as dimensões de

(1) santidade, (2) retidão e (3) justiça.

1) Santidade

  Há dois aspectos básicos na santidade de Deus.

O primeiro aspecto é sua singularidade. Ele está totalmente separado de toda a criação. É o que Louis Berkhof chama "majestade-santidade" de Deus. A singularidade de Deus é afirmada em Êxodo 15:11: "Ó SENHOR quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado em santidade, que operas maravilhas?" Isaías viu o Senhor "assentado sobre um alto e sublime trono". As bases do limiar tremeram e a casa ficou cheia de

fumaça. Os serafins clamavam: "Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos" (Isa. 6:1-4). A palavra hebraica para "santo" (qãdõsh) significa "marcado" ou "removido do uso comum, ordinário". O verbo da qual ela deriva sugere "cortar" ou "separar". Embora o adjetivo santo fosse livremente aplicado a objetos, ações e pessoas envolvidas no culto nas religiões dos povos em tomo de Israel, era usado com muita liberdade em relação à própria Divindade no culto da aliança de Israel.

Segundo aspecto é sua absoluta pureza ou bondade. Isso significa que ele não é atingido nem manchado pelo mal que existe no mundo. Ele não participa do mal em sentido algum. Observe como Habacuque 1:13 dirige-se a Deus: "Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar". Tiago 1:13 afirma que Deus não pode ser tentado pelo mal. Nesse sentido, Deus é totalmente diferente dos deuses de outras religiões. Tais deuses com frequência se envolviam nos mesmos tipos de atos pecaminosos de seus seguidores. Jeová, entretanto, é livre de tais atos.

    A perfeição de Deus é o modelo para nosso caráter moral e a motivação para a prática religiosa.

Todo o código moral procede de sua santidade. O povo de Israel ouviu: "Eu sou o SENHOR, vosso Deus; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo; e não vos contaminareis por nenhum enxame de criaturas que se arrastam sobre a terra. Eu sou o SENHOR, que vos faço subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus; portanto, vós sereis santos, porque eu sou santo" (Lev. 11.44,45).

  Um ponto de repetida ênfase na Bíblia é que o crente deve ser como Deus. Desse modo, porque Deus é santo, os que são seus seguidores também devem ser santos.

  Deus não é apenas pessoalmente isento de toda perversidade ou mal. Ele é incapaz de tolerar a presença do mal. É como se ele fosse alérgico ao pecado e ao mal. Isaías, ao ver Deus, ficou muito mais consciente de sua própria impureza. Ele ficou desesperado: "Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!" (Isa. 6.5). De modo semelhante, Pedro, por ocasião da pesca maravilhosa, percebendo quem Jesus era, disse: "Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador" (Luc. 5.8). Quando se mede a santidade de alguém, não pelos seus próprios padrões ou pelos de outra pessoa, mas pelos de Deus, evidencia-se a necessidade de uma mudança completa da condição moral e espiritual.

2) Retidão

  A segunda dimensão da pureza moral de Deus é sua retidão. Isso é algo como a santidade de Deus aplicada a seu relacionamento com outros seres. A retidão de Deus significa, acima de tudo, que a lei de Deus, sendo expressão fiel de sua natureza, é tão perfeita quanto ele. O Salmo 19.7-9 afirma isso da seguinte maneira: "A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente justos". Em outras palavras, Deus só ordena o que é correto e o que, portanto, terá um efeito positivo sobre o crente obediente.

3) Justiça

   Observamos que Deus mesmo age de acordo com sua lei. Ele também administra seu reino de acordo com sua lei.

Em outras palavras, Deus é como um juiz que segue pessoalmente a lei da sociedade e, em sua função oficial, promove a mesma lei, aplicando-a aos outros.

  A Escritura deixa claro que o pecado tem consequências definidas. Essas consequências devem por fim sobrevir, mais cedo ou mais tarde. Em Gênesis 2.17 lemos a advertência de Deus a Adão e Eva: "Da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás". Advertências semelhantes ocorrem em toda a Escritura, incluindo-se entre elas a afirmação de Paulo de que "o salário do pecado é a morte" (Rom. 6.23). Deus por fim punirá o pecado A justiça de Deus significa que ele é justo na aplicação de sua lei. Ele não mostra favoritismo ou parcialidade. Não importa quem somos. O que fizemos ou deixamos de fazer é a única consideração na atribuição de consequências ou recompensas. Uma prova da justiça de Deus é que ele condenou os juízes que, nos tempos bíblicos, embora fossem encarregados de serem seus representantes, aceitavam suborno para alterar os julgamentos (e.g., 1Sam. 8.3; Amós 5.12). A razão da condenação deles era que o próprio Deus, sendo justo, esperava o mesmo tipo de comportamento dos que deviam aplicar sua lei.

Precisamos tratar os outros com justiça e imparcialidade (Amós 5.15, 24; Tg 2.9) porque isso é o que Deus faz.

     Amor

  Quando pensamos nos atributos morais de Deus, talvez nos venha à mente em primeiro lugar o conjunto de atributos aqui classificados de amor. Muitos o consideram o atributo básico, a própria natureza ou definição de Deus. Existe alguma base bíblica para tanto. Por exemplo, em 1João 4.8 e 16, lemos: "Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor [...] E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele". Em geral, o amor de Deus pode ser entendido como sua doação ou seu partilhar eterno de si mesmo. Como tal, o amor sempre esteve presente entre os membros da Trindade. Jesus disse: "Assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como o Pai me ordenou" (Jo 14.31).

O amor e a justiça de Deus _um ponto de tensão?

  Examinamos várias características de Deus, sem as esgotar de maneira alguma. Mas qual a relação entre elas? Presume-se que Deus seja um ser uno, integrado, cuja personalidade forma um todo harmonioso. Portanto, não deveria haver nenhuma tensão entre esses atributos. Mas é isso mesmo que acontece?

  O ponto de possível tensão que se destaca é a relação entre o amor de Deus e sua justiça. Por um lado, a justiça de Deus parece muito severa, exigindo a morte dos que pecam. É um Deus feroz, rigoroso. Por outro, Deus é misericordioso, generoso, perdoador, longânimo. Os dois conjuntos de características não estariam em conflito? Há, portanto, uma tensão interna na natureza divina?

  Se partirmos das pressuposições de que Deus é um ser integrado e os atributos divinos são harmoniosos, definiremos um atributo de acordo com o outro. Desse modo, a justiça é uma justiça de amor e o amor, um amor justo. A ideia de que são conflitantes pode ter surgido com a definição isolada de cada atributo. Embora o conceito de amor à parte da justiça, por exemplo, possa ser inferido de outras fontes, não é um ensino bíblico. O que estamos dizendo é que não há uma compreensão plena do amor, a não ser que se veja

que ele inclui a justiça. Se o amor não inclui a justiça, é mero sentimentalismo.

  Na realidade, o amor e a justiça têm trabalhado juntos no tratamento que Deus dispensa à humanidade. A justiça de Deus exige que a pena do pecado seja paga. O amor de Deus, porém, deseja que sejamos restaurados à comunhão com ele. A oferta de Jesus Cristo como expiação pelo pecado significa que tanto a justiça como o amor de Deus são mantidos. E de fato não existe nenhuma tensão entre eles. Só existe tensão se a pessoa entende que o amor exige que Deus perdoe o pecado sem que nenhum pagamento seja feito.

Capitulo 4

IV. A TRIUNIDADE DE DEUS: A Trindade

  Na doutrina da Trindade, encontramos uma das doutrinas que de fato distinguem o cristianismo. Entre as religiões do mundo, a fé cristã é sem igual ao alegar que Deus é um, mas que, ao mesmo tempo, há três pessoas que são Deus. Ao fazer isso, apresenta-se o que, na superfície, parece uma doutrina contraditória. Além disso, essa doutrina não é declarada de forma aberta ou explícita nas Escrituras. No entanto, mentes devotas têm sido levadas a ela quando procuram fazer justiça ao testemunho das Escrituras. A doutrina da Trindade é crucial para o cristianismo. Ela se ocupa em definir quem é Deus, como ele é como trabalha e a forma pela qual se tem acesso a ele. Além disso, a questão da deidade de Jesus Cristo, que historicamente tem sido ponto de grande tensão, está muito ligada com o conceito de Trindade. A posição que adotamos em relação à Trindade exerce profunda influência em nossa Cristologia.

  A posição que adotamos em relação à Trindade também responderá uma série de perguntas de natureza prática. A quem devemos cultuar _apenas ao Pai; ao Filho; ao Espírito Santo; ou ao Deus triúno? A quem devemos orar? A obra de um deve ser considerada à parte da obra dos outros, ou podemos entender que, de alguma forma, a morte expiatória de Jesus também é obra do Pai? Pode-se pensar no Filho como um equivalente ao Pai em essência, ou ele deve ser relegado a um status ligeiramente menor?

  Vamos começar nosso estudo da Trindade examinando a base bíblica da doutrina. É importante notar o tipo de testemunho das Escrituras que levou a igreja a formular e a propor essa estranha doutrina. Depois, vamos examinar algumas das primeiras tentativas de lidar com os dados bíblicos, entre elas a formulação ortodoxa. Por fim, vamos estudar os elementos essenciais da doutrina e procurar as analogias que possam nos ajudar a compreendê-la um pouco melhor.

O Ensino Bíblico

  Começamos com os dados bíblicos no que diz respeito à doutrina da Trindade. Há três tipos de indícios distintos, mas relacionados entre si: o indício da unidade de Deus _que Deus é um; indícios de que há três pessoas que são Deus; e, por fim, indicações ou pelo menos insinuações da triunidade.

A Unidade De Deus

  A religião dos antigos hebreus era uma fé rigorosamente monoteísta, como, aliás, é a religião judaica hoje. A unidade de Deus foi revelada a Israel em muitas ocasiões diferentes e de várias maneiras. Os Dez Mandamentos, por exemplo, começam com a declaração: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim" (Êxo. 20.2,3).

  A proibição da idolatria, o segundo mandamento (v. 4), também repousa sobre a singularidade de Jeová. Ele não tolerará nenhuma adoração de objetos feitos por mãos humanas, pois somente ele é Deus. A rejeição do politeísmo percorre todo o Antigo Testamento. Deus demonstra repetidas vezes sua superioridade sobre outros que reivindicam deidade.

  Uma indicação mais clara da unidade de Deus é o ‘Shema’ de Deuteronômio 6, as grandes verdades que o povo de Israel tinha a obrigação de absorver e inculcar em seus filhos. Eles deviam meditar naqueles ensinamentos ("Estas palavras [...] estarão no teu coração", v. 6). Deviam conversar sobre eles em casa e pelo caminho, ao levantar e ao deitar (v. 7). Deviam empregar auxílios visuais para lhes chamar a atenção para tais verdades _usando-as nas mãos e na testa, e escrevendo-as nos umbrais da casa e nos portões. E quais são essas grandes verdades que deviam ser tão destacadas? Uma delas é uma declaração afirmativa indicativa: "O SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" (v. 4). A segunda grande verdade que Deus desejava que Israel aprendesse e ensinasse é um mandamento baseado em sua singularidade: "Amarás o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força" (v. 5). Por ele ser único, não devia haver divisão no compromisso de Israel.

  O ensino a respeito da unidade de Deus não se restringe ao Antigo Testamento. Tiago 2.19 recomenda a crença num único Deus, embora observe que isso é insuficiente para a justificação. Paulo escreve quando discorre sobre a ingestão de carne oferecida a ídolos: "Sabemos que o ídolo não significa nada no mundo e que só existe um Deus, [...] o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos" (1Cor. 8.4,6,

NVI). Aqui, Paulo, à semelhança da lei mosaica, exclui a idolatria, baseado no fato de só existir um Deus.

A Deidade Dos Três

  Todos esses indícios, tomados por si, com certeza nos levariam a uma crença basicamente monoteísta. Que motivo, nesse caso, levou a igreja a ir além dessas indicações? Foi o testemunho bíblico complementar de que três pessoas são Deus. A deidade da primeira pessoa, o Pai, pouco se discute. Além das referências em 1Coríntios 8.4, 6 e 1Timóteo 2.5,6, podemos notar os casos em que Jesus refere-se ao Pai como Deus. Em Mateus 6.26, por exemplo, ele indica que "vosso Pai celeste as sustenta [as aves do céu]". Numa afirmação paralela que vem logo depois, ele indica que "Deus veste [...] a erva do campo" (v.30). É óbvio que, para Jesus, "Deus" e "vosso Pai celeste" são expressões equivalentes. E em numerosas referências a Deus, é evidente que Jesus tem em mente o Pai (e.g. Mat. 19.23-26; 27.46; Mc 12.17, 24-27). Um pouco mais problemático é o status de Jesus como deidade, ainda que a Escritura também o identifique como Deus.

Uma referência chave à deidade de Cristo Jesus é encontrada em Filipenses 2. Ao que tudo indica, nos versículos 5-11, Paulo toma o que era um hino da igreja primitiva e o usa como base para pedir aos leitores que pratiquem a humildade. Paulo observa que "ele [Jesus], subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus" (v. 6). A palavra aqui traduzida por "forma" é morphõ. Esse termo, tanto no grego clássico como no bíblico, significa "conjunto de características que fazem com que uma coisa seja o que é". Denotando a genuína natureza de uma coisa, morphe contrasta com schêma, que também é em geral traduzida por "forma", mas no sentido de formato ou aparência superficial, em lugar de substância. O uso de morphê nessa passagem, refletindo a fé da igreja primitiva, insinua uma profunda confiança na plena deidade de Cristo.

  Outra passagem significativa é Hebreus 1. O autor, cuja identidade nos é desconhecida, está escrevendo para um grupo de cristãos hebreus. Ele (ou ela) faz várias afirmações que implicam fortemente a plena deidade do Filho. Nos, versículos iniciais, o autor argumenta que o Filho é superior aos anjos e nota que Deus tem falado por meio do Filho, destacou-o como herdeiro de todas as coisas e fez o universo por meio dele (v. 2). O autor descreve, então, o Filho como o "resplendor da glória de Deus" (NVI) e a "expressão exata do seu ser". Embora talvez possa se alegar que isso só afirma que Deus se revelou por meio do Filho, não que o Filho é Deus, o contexto sugere outra coisa. Além de se identificar como o Pai daquele a quem chama Filho (v. 5), Deus é citado no versículo 8 (do SaI 45.6) dirigindo-se ao Filho como "Deus" e no versículo 10 como "Senhor" (do Sal. 102.25). O autor conclui observando que Deus disse ao Filho: "Assenta-te à minha direita" (do SaI. 110.1). É significativo que o autor bíblico dirigese a cristãos hebreus, que com certeza estariam imbuídos de monoteísmo, de maneira que inegavelmente afirmam a deidade de Jesus e sua igualdade com o Pai.

  Uma consideração final sobre a autoconsciência de Jesus. Devemos notar que Jesus nunca afirmou diretamente sua deidade. Ele nunca disse simplesmente: "Sou Deus". Mas várias pistas sugerem que era assim, de fato, que ele se via. Ele afirmava possuir o que pertence unicamente a Deus. Ele falou dos anjos de Deus (Luc. 12.8,9; 15.10) como se fossem seus (Mat. 13.41). Ele considerava o reino de Deus (Mat. 12.28; 19.14, 24; 21.31, 43) e os eleitos de Deus (Mc. 13.20) como de sua propriedade. Além disso, ele alegou perdoar pecados (Mc. 2.8-10). Os judeus reconheciam que somente Deus podia perdoar pecados e, por conseguinte, acusaram Jesus de blasfêmia. Ele também reivindicava poder para julgar o mundo (Mat. 25.31) e reinar sobre ele (Mat. 24.30; Mc 14.62).

  Também há referências bíblicas que identificam o Espírito Santo com Deus. Aqui podemos notar que há passagens em que referências ao Espírito Santo ocorrem de forma intercambiável com referências a Deus. Um exemplo disso é Atos 5.3,4. Ananias e Safira retiveram uma parte do produto da venda de sua propriedade, fingindo que o colocavam inteiramente aos pés dos apóstolos. Aqui, mentir ao Espírito Santo (v. 3) é equiparado a mentir a Deus (v. 4). O Espírito Santo também é descrito como alguém que possui as qualidades de Deus e executa as obras dele. É o Espírito Santo quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11). Ele regenera ou dá nova vida (Jo 3.8). Em 1Coríntios 12.4-11, lemos que é o Espírito quem concede dons à igreja e exerce soberania sobre os que recebem tais dons. Além disso, ele recebe a honra e a glória reservadas a Deus.

  Em 1Coríntios 3.16,17, Paulo lembra aos fiéis que eles são o templo de Deus e que seu Espírito habita neles. No capítulo 6, Paulo diz que o corpo deles é um templo do Espírito Santo que neles habita (v. 19,20). "Deus" e "Espírito Santo", ao que parece, são expressões equivalentes. Também há alguns trechos em que o Espírito Santo é colocado em pé de igualdade com Deus. Um deles é a fórmula batismal de Mateus 28.19; o segundo é a bênção paulina em 2Coríntios 13.14; e, por fim, há 1Pedro 1.2, em que Pedro dirige-se a seus leitores como os "eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo".

A Triunidade

  Um texto tradicionalmente citado como um registro da Trindade é 1João 5.7, isto é, segundo se encontra em versões mais antigas como a Edição Revista e Corrigida: "Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um". Aparentemente, há uma afirmação clara e sucinta da triunidade. Infelizmente, a base textual é tão frágil que algumas traduções recentes (e.g. NVI, ARA) só incluem essa declaração em notas ou entre colchetes, enquanto outras a omitem por completo (e.g. RSV ). Se existe alguma base bíblica para a Trindade, deve estar em outro lugar.

    Existem ainda outras formas plurais. Em Gênesis 1.26, Deus diz: "Façamos o homem à nossa imagem". Aqui, o plural aparece tanto no verbo "façamos" como no sufixo possessivo "nossa". Quando Isaías foi chamado, ouviu o Senhor dizendo: "A quem enviarei, e quem há de ir por nós?" (Isa. 6.8). O que é significativo do ponto de vista da análise lógica é a mudança do singular para o plural. Gênesis 1.26 diz na realidade: "Também. disse [singular] Deus: Façamos [plural] o homem à nossa [plural] imagem". Deus é citado usando um verbo no plural em referência a si mesmo. De modo semelhante, Isaías 6.8 traz: "A quem enviarei [singular], e quem, há de ir por nós [plural]?" Em algumas partes das Escrituras, as três pessoas são associadas em unidade e aparente igualdade. Uma delas é a fórmula batismal conforme prescrita na grande comissão (Mat. 28.19,20): batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Note que "nome" é singular, embora haja o envolvimento de três pessoas. Ainda outra associação direta dos três nomes é a bênção paulina em 2Coríntios 13.13 __"A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós". Aqui temos novamente a associação dos três nomes em unidade e aparente igualdade.

  É no quarto evangelho que encontramos o indício mais significativo de uma Trindade de equivalentes. A fórmula tríplice aparece repetidas vezes:

João 1.33,34; 14.16, 26; 16.13-15; 20.21,22 (cf. 1Jo 4.2, 13,14). A dinâmica interna entre as três pessoas surge várias vezes, como observou George Hendry. O Filho é enviado pelo Pai (14.24) e vem dele (16.28). O Espírito é dado pelo Pai (14.16), enviado pelo Pai (14.26) e

procede do Pai (15.26). Mas o Filho está estreitamente relacionado com a vinda do Espírito: ele ora por sua vinda (14.16); o Pai envia o Espírito em nome do Filho (14.26); o Filho enviará o Espírito da parte do Pai (15.26); o Filho deve ir para que possa enviar o Espírito (16.7). O ministério do Espírito é visto como uma continuação e desenvolvimento do ministério do Filho. Ele trará à lembrança o que o Filho disse (14.26); ele testemunhará do Filho (15.26); ele declarará o que ouve do Filho, glorificando, dessa forma, o Filho (16.13,14).

  O prólogo do evangelho também contém um material rico em significado para a doutrina da Trindade. João diz no primeiro versículo do livro: "O Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". Eis urna idéia da divindade da Palavra. Aqui também encontramos a idéia de que embora o filho seja distinto do Pai, existe uma comunhão entre eles, pois a preposição pros ("com") não conota apenas uma proximidade física em relação ao Pai, mas também urna intimidade de comunhão.

  Há outras maneiras pelas quais esse evangelho salienta a proximidade e a unidade entre o Pai e o Filho. Jesus diz: "Eu e o Pai somos um" (10.30) e "Quem me vê a mim vê o Pai" (14.9). Ele ora para que seus discípulos sejam um corno são ele e o Pai (17.21).

  Nossa conclusão a partir dos dados que acabamos de examinar: Embora a doutrina da Trindade não seja declarada de forma expressa, a Escritura, especialmente o Novo Testamento, contém tantos indícios da deidade e da unidade das três pessoas que podemos compreender por que a igreja formulou a doutrina, concluindo que estava certa em fazê-lo.

Formulações Históricas

  Durante os dois primeiros séculos depois de Cristo, houve pouco esforço consciente de lutar com as questões teológicas e filosóficas do que hoje entendemos por doutrina da Trindade. Pensadores como Justino e Taciano destacaram a unidade da essência entre a Palavra e o Pai, usando a figura da impossibilidade de separar a luz de sua fonte, o sol. Dessa forma, ilustraram que, embora a Palavra e o Pai sejam distintos, não podem ser divididos ou separados.

A Perspectiva "Econômica" Da Trindade

  Em Hipólito e Tertuliano, encontramos o desenvolvimento de uma perspectiva "econômica" da Trindade. Houve poucas tentativas de explorar as relações eternas entre os três; antes, houve uma concentração no estudo das formas pelas quais a Tríade se manifestou na criação e na redenção. Embora a criação e a redenção mostrassem que o Filho e o Espírito eram diferentes do Pai, eles eram também considerados unidos de modo inseparável ao Pai em seu ser eterno. Entendia-se que, assim como as funções mentais de um ser humano, a razão de Deus, ou seja, a Palavra estava imanente e indivisivelmente com ele.

O Monarquianismo Dinâmico

  No final do século II e no século III, houve duas tentativas de elaborar uma definição precisa do relacionamento entre Cristo e Deus. As duas concepções são tratadas por monarquianismo (lit. "soberania única"), uma vez que destacam a singularidade e a unidade de Deus, mas apenas a última reivindicou essa designação para si.

  O monarquianismo dinâmico sustentava que Deus estava dinamicamente presente na vida de Jesus homem. Havia uma obra ou força de Deus que atuava sobre, em ou por meio de Jesus homem, mas não havia uma presença real de Deus nele. O idealizador do monarquianismo dinâmico, Teódoto, asseverava que, antes, do batismo, Jesus era um homem comum, embora completamente virtuoso. No batismo, o Espírito, ou Cristo, desceu sobre ele, e daquele

momento em diante, ele passou a concretizar as obras milagrosas de Deus.

Essas ideias de monarquianismo dinâmico nunca chegaram a se difundir!

O Monarquianismo Modalista

  Em contraste, o monarquianismo modalista era um ensino popular, muito difundido. Enquanto o monarquianismo dinâmico parecia negar a doutrina da Trindade, o modalismo parecia afirmá-la. Ambas as variedades do monarquianismo desejavam preservar a doutrina da unidade de Deus. O modalismo, porém, também se devotava profundamente à plena divindade de Jesus. Uma vez que em geral se entendia que o termo Pai referia-se à própria Divindade, qualquer insinuação de que a Palavra ou o Filho eram de alguma forma diferentes do Pai incomodava os modalistas. Parecia-lhes um caso de biteísmo, crença em dois deuses.

  Em essência, a ideia dessa escola de pensamento é que existe uma Divindade que pode ser designada de várias formas, como Pai, Filho ou Espírito. Os termos não indicam distinções reais, sendo meros nomes que são apropriados e aplicáveis em diferentes ocasiões. Pai, Filho e Espírito Santo são idênticos __são revelações sucessivas da mesma pessoa. A solução modalista ao paradoxo de Deus ser três e um era, portanto, não três pessoas, mas uma pessoa com três nomes, funções ou atividades diferentes. Deve-se reconhecer que, no monarquianismo modalista, temos uma concepção genuinamente única, original e criativa, concepção que, em alguns aspectos, é uma ruptura brilhante. Tanto a unidade de Deus quanto a deidade das três pessoas __Pai, Filho e Espírito Santo __são preservadas. Mas a igreja, ao avaliar essa teologia, considerou-a deficiente em alguns aspectos significativos. Em particular, o fato de as três pessoas por vezes aparecerem simultaneamente na cena da revelação bíblica tomou-se uma grande pedra de tropeço para essa

concepção. A cena do batismo, em que o Pai fala para o Filho, e o Espírito desce sobre o Filho é um exemplo. Alguns dos textos trinitários destacados anteriormente também se mostram problemáticos.

A Formulação Ortodoxa

  A doutrina ortodoxa da Trindade foi enunciada em uma série de debates e concílios, em grande parte, causada pelas controvérsias provocadas por movimentos tais como o monarquianismo e o arianismo. Foi no Concílio de Constantinopla (381) que emergiu uma formulação definitiva em que a igreja explicitou as crenças que estavam implícitas. A concepção que prevaleceu foi basicamente a de Atanásio (293-373), conforme elaborada e aperfeiçoada pelos teólogos capadócios __Basílio, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa. A fórmula que expressa a posição de Constantinopla é "uma ousia [substância] em três hypostases [pessoas]". Com frequência, a ênfase parece estar mais na segunda parte da fórmula, ou seja, na existência distinta das três pessoas, e não numa Divindade única, indivisível. A Divindade única existe "indivisível em pessoas divididas". Existe uma "identidade de natureza" nas três hipóstases.

  Os capadócios tentaram expor os conceitos da substância comum e das pessoas múltiplas distintas usando a analogia de um universal e seus particulares __as pessoas da Trindade estão para a substância divina, assim como os homens estão para o homem universal (ou a humanidade). Cada uma das hipóstases é a ousia da Divindade que se distingue pelas características ou propriedades peculiares a ela, assim como cada ser humano possui características únicas que o distinguem de outros seres humanos. Respectivamente, essas propriedades das pessoas divinas são, de acordo com

Basílio, paternidade, filiação e poder santificador ou santificação.

  É evidente que a fórmula ortodoxa protege a doutrina da Trindade contra o perigo do modalismo. Mas será que o fez à custa de cair no erro oposto __o triteísmo? Na superfície, o perigo parece considerável. Dois pontos foram, no entanto, levantados para resguardar a doutrina da Trindade do triteísmo. Em primeiro lugar, observou-se que se pudermos encontrar uma única atividade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a qual, de maneira nenhuma, seja diferente em alguma das três pessoas, precisamos concluir que existe o envolvimento de apenas uma substância idêntica. E tal unidade foi encontrada na atividade divina da revelação. A revelação origina-se no Pai, procede por meio do Filho e é completada no Espírito. Não são três ações, mas uma ação em que todos os três se envolvem.

  Em segundo lugar, houve uma insistência na concretitude e na indivisibilidade da substância divina. Muito da crítica contra a doutrina capadócia da Trindade centrava-se na analogia de um universal que se manifesta em particulares. Para evitar a conclusão de que há uma multiplicidade de deuses dentro da Deidade, assim como há uma multiplicidade de seres humanos dentro da humanidade, Gregório de Nissa afirmou que, no sentido estrito, não devemos falar de uma multiplicidade de seres humanos, mas de uma multiplicidade de um ser humano universal. Assim, os capadócios continuaram salientando que, embora os três membros da Trindade possam ser distinguidos numericamente como pessoas, eles são indistinguíveis em sua essência ou substância. Eles são distinguíveis como pessoas, mas são um e inseparáveis em sua existência.

  Deve-se reiterar que a ousia não é abstrata, mas uma realidade concreta. Além disso, essa essência divina é simples e indivisível. Seguindo a doutrina aristotélica de que somente o que é material pode ser dividido quantitativamente, os capadócios às vezes quase negavam que a categoria de número pudesse ser de alguma forma aplicada à Deidade. Deus é simples e não composto. Assim, embora cada uma das pessoas seja distinta, não podem ser somadas para formar três entidades.

Elementos Essenciais De Uma Doutrina Da Trindade

  Aqui é preciso fazer uma pausa a fim de observar os elementos de destaque que devem ser incluídos em qualquer doutrina da Trindade.

1. Começamos com a unidade de Deus. Deus é um, não vários. A unidade de Deus pode ser comparada com a unidade entre marido e esposa, mas devemos ter em mente que estamos lidando com um Deus, não com uma reunião de entidades distintas.

2. A deidade da cada uma das três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, deve ser salientada. No que se refere à qualidade, todas são iguais. O Filho é divino da mesma forma e na mesma medida que o Pai, e isso também vale para o Espírito Santo.

3. A triplicidade e a unidade de Deus não dizem respeito ao mesmo pormenor. Embora a interpretação ortodoxa da Trindade pareça contraditória (Deus é um, mas também três), a contradição não é real, mas apenas aparente. Existe uma contradição quando algo é A e não é A ao mesmo tempo, com respeito ao mesmo pormenor. O modalismo tentou lidar com a aparente contradição afirmando que os três modos ou manifestações de Deus não são simultâneos; em dado momento, apenas um deles é revelado. A ortodoxia, porém, insiste em que Deus é três pessoas a qualquer momento. Sustentando também sua unidade, a ortodoxia lida com o problema afirmando que a maneira pela qual Deus é três difere, em alguns aspectos, da maneira pela qual ele é um. Os pensadores do século IV falavam de uma ousia e três hipóstases. Surge agora o problema de determinar o significado desses dois termos ou, sendo mais abrangente, a diferença entre a natureza da unidade de Deus e a de sua triplicidade.

4. A Trindade é eterna. Sempre houve três, Pai, Filho e Espírito Santo, e todos eles sempre foram divinos. Um ou mais deles não surgiram em algum ponto do tempo nem se tomaram divinos em algum momento. O Deus Triúno é e será o que sempre foi.

5. A função de um membro da Trindade pode, por vezes, subordinar-se a um ou aos dois outros membros, mas isso não significa que algum deles possa ser inferior em essência. Cada uma das três pessoas da Trindade teve, em certo período, uma função específica exclusiva. Isso deve ser entendido como uma função temporária no intuito de cumprir determinado objetivo, não uma mudança em seu status ou essência. Na experiência humana, também existe subordinação funcional. Vários iguais num negócio ou empreendimento podem escolher um dentre eles para servir como capitão de uma força tarefa ou como presidente de uma comissão por um período determinado, sem que haja nenhuma mudança de posição. Da mesma forma, em sua encarnação terrena, o Filho não se tornou menor que o Pai, mas se subordinou funcionalmente à vontade do

Pai. Semelhantemente, o Espírito Santo está agora subordinado ao ministério do Filho (veja Jo 1416) assim como à vontade do Pai, mas isso não implica que este seja menor que aqueles.

6. A Trindade é incompreensível. Não podemos compreender plenamente o mistério da Trindade. Algum dia, quando virmos Deus, iremos vê-lo como é e o compreenderemos melhor que agora.

Mas, mesmo então, não o compreenderemos totalmente.

                          FIM


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